"Eu pensei em me matar. Pensava 'Meu Deus, eu não vou sair daqui'. Ficava olhando lá fora, pensava na minha mulher e nos meus filhos", desabafou o técnico em segurança eletrônica Mauro Oliveira de Andrade, preso injustamente por 26 dias na Papuda, no Distrito Federal. Uma decisão da Justiça do DF apontou falha na investigação policial e condenou o governo a indenizar Mauro em R$ 40 mil.
"Eu não sabia de nada, tinha acabado de chegar de um serviço que estava fazendo quando me deparei com a polícia arrombando a casa. Mandaram meu filho encostar na parede e perguntaram se eu era o Mauro, que tinham um mandado de prisão"
Na acusação, Mauro é apontado como um dos homens que furtaram uma loja de equipamentos eletrônicos na região de Taguatinga. O único indício apurado foram as impressões digitais do técnico na central de alarme do estabelecimento. Mesmo assim, o delegado responsável pelo caso solicitou a prisão preventiva de Mauro sob a alegação de que ele fazia parte da organização criminosa.
Mauro esteve no local dias antes prestando serviços à loja. A defesa chegou a apresentar um relatório da empresa em que o técnico trabalha para comprovar o trabalho realizado. As imagens do circuito de segurança do comércio também mostram que os responsáveis pelo crime usavam luvas durante o furto.Após a denúncia ser arquivada, ele foi solto no dia 11 de maio, mas o trauma dos dias na prisão ainda atormenta o técnico, que não tinha passagens pela polícia. Durante os dias em que ficou preso, apesar de ter comorbidades, ele foi colocado em uma ala comum, onde contraiu Covid-19 e perdeu 18 quilos. "[A indenização] não apaga nada, só cobre o gasto que a gente teve, porque a vida da gente não volta mais ao normal depois disso", conclui.
Para o advogado Adriano Costa, o técnico foi vítima de racismo estrutural. "Causou estranheza na defesa o fato de o Mauro nunca ter pisado na delegacia e ter uma foto dele nos arquivos da polícia, sendo que ele nunca tinha respondido a nenhum processo", comenta.
"A forma como Mauro foi tratado, mesmo diante de todo o conjunto probatório, gerou um abalo psíquico, moral e físico. Ele tem comorbidades, contraiu Covid e ficou em uma situação degradante, sem contar a dinâmica dos fatos", completa o advogado Dyeisson Rodrigues.
A Procuradoria-Geral do DF nega qualquer violação à honra ou à imagem, bem como a necessidade de indenização, e diz que "os agentes públicos cumpriram as diligências necessárias para apurar os fatos e realizaram a prisão do autor sem nenhuma irregularidade ou excesso".
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